terça-feira, 26 de agosto de 2014

Mistério?!

Foi mistério e segredo
e muito mais
Foi divino brinquedo
e muito mais


Meu olhar vagabundo
de cachorro vadio
olhava a pintada
e ela estava no cio

E era um cão vagabundo
e uma onça pintada
se amando na praça
como dois animais

(canção "Como dois animais", de Alceu Valença)

domingo, 3 de agosto de 2014

Razão filosófica do chapéu

Mariana! Mariana! Não tem outra coisa com que implicar?
Há uma razão filosófica para se usar um chapéu, minha cara.


"— A escolha do chapéu não é uma ação indiferente, como você pode supor; é regida por um princípio metafísico. Não cuide que quem compra um chapéu exerce uma ação voluntária e livre; a verdade é que obedece a um determinismo obscuro. A ilusão da liberdade existe arraigada nos compradores, e é mantida pelos chapeleiros que, ao verem um freguês ensaiar trinta ou quarenta chapéus, e sair sem comprar nenhum, imaginam que ele está procurando livremente uma combinação elegante. O princípio metafísico é este: —
o chapéu é a integração do homem, um prolongamento da cabeça, um complemento decretado ab eterno*; ninguém o pode trocar sem mutilação. E uma questão profunda que ainda não ocorreu a ninguém. Os sábios têm estudado tudo desde o astro até o verme, ou, para exemplificar bibliograficamente, desde Laplace**... Você nunca leu Laplace? desde Laplace e a Mecânica Celeste até Darwin e o seu curioso livro das Minhocas, e, entretanto, não se lembraram ainda de parar diante do chapéu e estudá-lo por todos os lados. Ninguém advertiu que há uma metafísica do chapéu. Talvez eu escreva uma memória a êste (sic) respeito.
São nove horas e três quartos; não tenho tempo de dizer mais nada; mas você reflita consigo, e verá... Quem sabe? pode ser até que nem mesmo o chapéu seja complemento do homem, mas o homem do chapéu..."

*desde sempre
**Pierre-Simon Laplace (1749-1827), matemático e astrônomo francês.
[fala de Conrado Seabra a sua esposa Mariana, in "Capítulo dos chapéus",  Contos, Machado de Assis (5ªed., São Paulo: Cultrix, 1968, pp. 115-128)]

sábado, 2 de agosto de 2014

Indizível

As  palavras
                   ca
                       em

Se
      e s p a r r a m a m

Não conseguem dar conta

              ton
         tei
             am

                                nam
                          o
                    si
          pul
   im

e não dizem.



[Eu brincando de fazer poema concreto]